Universidade de Brasília
Instituto de Ciências Sociais
Estrutura de Classes e Estratificação Social
Turma: A
Nome do aluno (Matrícula): R.M.C.P.
Comentários:
O artigo começa bem, citando que
exista a possibilidade de ser impróprio falar em meritocracia em um sistema
injusto, que é o caso do Brasil, no que toca a educação e sobre a questão desse
mesmo sistema conspirar contra as classes mais desprovidas. Porém, ao avançar
um pouco mais, o artigo parece adquirir um tom de fala um tanto quanto
meritocrático, falando que falta justamente a força de vontade e esforço das
escolas de ensinar e dos alunos de se dedicarem mais, observado que menciona
que políticas sociais e educacionais podem reduzir a questão de desigualdade.
A impressão que tive é que o artigo concorda, em
parte, com as teorias reprodutivistas, ao dizer que a escola, no padrão que
está hoje, reproduz essencialmente as desigualdades, citando até os estudos de
James Coleman, afirmando que as políticas educacionais em vigor não têm
favorecido os mais desiguais, ao contrário, tem ampliado a desigualdade.
Entretanto, no décimo parágrafo, o artigo cita que a escola só serve a
sociedade se fundar sua ação de forma meritocrática. Nesse ponto, a meritocracia
apenas amplia a questão da desigualdade. Segundo o texto base de Vilela e
Collares:
“...a meritocracia, em sua essência, consiste na ideia de que a inteligência e as aptidões individuais são critérios mais igualitários de alocação de posições sociais do que critérios que se baseiam na riqueza, em características atribuídas, tais como raça, etnia e sexo, ou na posição socioeconômica dos pais. ” (VILELA, E. M.; COLLARES, A. C. M., p. 63).
Ora,
se a meritocracia se baseia muito mais na questão do esforço e inteligência, ou
como o artigo discutido já citou, do talento, deixa de considerar as questões
que as teorias reprodutivistas levantam, como por exemplo, a influência do
capital cultural na inserção, permanência e manutenção de estudantes vindos de
camadas mais pobres da sociedade.
Também
pode-se ter um estranhamento quando da leitura dos parágrafos sétimo e oitavo
do artigo discutido, onde se afirma que existem dois ingredientes essenciais
para o sucesso escolar: o talento e o esforço. Mais uma vez, o artigo se
apropria de um tom extremamente meritocrático, desconsiderando que a escola
atualmente ensina e reproduz valores e comportamentos que as classes dominantes
impõem na sociedade como um todo. Seria o que os autores da teoria da
correspondência propõem como reflexão, como podemos ver no artigo base de
Mont’Alvão:
“Para os autores da teoria da correspondência (Bowles e Gintis, 1976), a escola deve ser entendida como uma instituição que, ao facilitar a integração de jovens ao mercado de trabalho, serve como mecanismo de perpetuação das relações sociais da vida econômica. O processo de escolarização funciona, assim, como mecanismo de internalização de valores, normas e comportamentos ditados pela classe dominante. ” (MONT’ALVÃO, A., p. 394).
Uma reflexão que cabe nesse momento é: Como
o artigo pode falar que as políticas ineficientes aumentam as desigualdades,
citar um estudioso da teoria reprodutivista e logo em seguida afirmar que
“talento e esforço” explicam o desempenho escolar melhor que a situação socioeconômica?
Mais
para o final do artigo discutido é mencionada a ideia que a escola deve
estimular o esforço dos alunos. Com certeza ela deve, mas não pode esquecer-se
das diferenças e desigualdades entre cada estudante e trabalhar essa
desigualdade não de forma igualitária, mas dando atenção necessária àqueles que
necessitam da mesma. Também fala que é necessário pensar em uma maneira mais
inteligente de se investir os recursos, repensando a escola e sua qualidade no
processo, o que também se faz importante realizar.
Como
pensamento final, a pressuposição de que a meritocracia no sistema educacional
pode acabar produzindo desigualdades se mostra real, pois parte do pressuposto
que todos têm a mesma capacidade e condições de adquirir com uma mesma facilidade
um dado conhecimento, regra ou modo de agir. Fica bem claro que isso é
inverídico, uma vez que existem desigualdades dadas, por exemplo, pelo grau de
capital cultural que um aluno possa ter ou não. Quanto mais capital cultural,
mais facilidade esse aluno terá ao longo de sua jornada educacional. Se um
aluno não tiver o mesmo nível de capital cultural, ele pode sofrer com a
cobrança demandada pelo sistema, que emprega os mesmos meios de averiguação de
conhecimento para os dois tipos de aluno citados, ou seja, não depende apenas
do “talento e esforço”. A meritocracia em si não é ruim, mas depende do senso
de justiça que se tem para determinar se essas desigualdades estão sendo
ampliadas pela mesma.