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segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Sobre Bourdieu e Educação

Universidade de Brasília
Instituto de Ciências Sociais
Prática de Ensino em Ciências Sociais
Turma: A
Nome do aluno (Matrícula): R.M.C.P

Atividade 4

Pierre Bourdieu, em seu livro “Escritos de Educação”, começa por mencionar que a escola como existe hoje em dia mais remete a uma instituição que favorece e legitima a diferenciação e a desigualdade e não de mobilidade social. Como observado, a renda elevada somada ao capital cultural transmitido pelas classes mais elevadas aos seus filhos são amplificadores das chances de entrada na educação superior ou de melhor compreensão no ensino onde se encontram. Essa premissa também vai de encontro com as classes menos favorecidas, que não possuem tantos recursos à idas ao teatro ou museus, ou mesmo dentro das relações familiares, onde não possuem um domínio mais técnico da língua nativa, portanto não transmitindo esse capital cultural de maneira tão intensa, que irá afetar o desempenho escolar de seus filhos. Depois, o autor descreve como as classes sociais reagem à escola como meio de ascensão, dizendo que elas costumam apenas irem até onde já se encontram, ou seja, classes operárias costumam buscar o nível escolar suficiente para que seus filhos se mantenham na classe operária, apesar de buscarem por ascensão maior, acabam permanecendo nela, por conta do choque entre as oportunidades objetivas e esperanças subjetivas.


Acho que a crítica que o próprio Bourdieu faz é importante para compreender como a escola acaba por proporcionar a desigualdade, uma vez que ela trata como iguais pessoas de carga cultural distintas, fazendo com que se privilegie uma classe com mais capital cultural que outra. A escola busca um certo tipo de capital cultural e isso não se reflete apenas nos alunos presentes, mas também nos professores e em suas propostas de transmissão de conhecimentos que demandem esse capital cultural expresso pela escola. Bourdieu mostra como a realidade social é muito diferente do ideal democrático que a escola diz cumprir, com a ideia de diminuir as desigualdades sociais advindas das mais diferentes situações, porém apenas mascarando-as e dando preferência para uma educação injusta.

Comentários sobre Estratificação Social

Universidade de Brasília
Instituto de Ciências Sociais
Estrutura de Classes e Estratificação Social
Turma: A
Nome do aluno (Matrícula): R.M.C.P.

Trabalho final: Desigualdades no campo educacional. Texto escolhido: “Crise econômica, meritocracia e desigualdade na educação”. Artigo retirado da página Instituto Alfa e Beto (http://www.alfaebeto.org.br/crise-economica-meritocracia-e-desigualdade-na-educacao/ - Acesso em: 05/01/2017).


Comentários:
            O artigo começa bem, citando que exista a possibilidade de ser impróprio falar em meritocracia em um sistema injusto, que é o caso do Brasil, no que toca a educação e sobre a questão desse mesmo sistema conspirar contra as classes mais desprovidas. Porém, ao avançar um pouco mais, o artigo parece adquirir um tom de fala um tanto quanto meritocrático, falando que falta justamente a força de vontade e esforço das escolas de ensinar e dos alunos de se dedicarem mais, observado que menciona que políticas sociais e educacionais podem reduzir a questão de desigualdade.
A impressão que tive é que o artigo concorda, em parte, com as teorias reprodutivistas, ao dizer que a escola, no padrão que está hoje, reproduz essencialmente as desigualdades, citando até os estudos de James Coleman, afirmando que as políticas educacionais em vigor não têm favorecido os mais desiguais, ao contrário, tem ampliado a desigualdade. Entretanto, no décimo parágrafo, o artigo cita que a escola só serve a sociedade se fundar sua ação de forma meritocrática. Nesse ponto, a meritocracia apenas amplia a questão da desigualdade. Segundo o texto base de Vilela e Collares:

“...a meritocracia, em sua essência, consiste na ideia de que a inteligência e as aptidões individuais são critérios mais igualitários de alocação de posições sociais do que critérios que se baseiam na riqueza, em características atribuídas, tais como raça, etnia e sexo, ou na posição socioeconômica dos pais. ” (VILELA, E. M.; COLLARES, A. C. M., p. 63).

            Ora, se a meritocracia se baseia muito mais na questão do esforço e inteligência, ou como o artigo discutido já citou, do talento, deixa de considerar as questões que as teorias reprodutivistas levantam, como por exemplo, a influência do capital cultural na inserção, permanência e manutenção de estudantes vindos de camadas mais pobres da sociedade.
            Também pode-se ter um estranhamento quando da leitura dos parágrafos sétimo e oitavo do artigo discutido, onde se afirma que existem dois ingredientes essenciais para o sucesso escolar: o talento e o esforço. Mais uma vez, o artigo se apropria de um tom extremamente meritocrático, desconsiderando que a escola atualmente ensina e reproduz valores e comportamentos que as classes dominantes impõem na sociedade como um todo. Seria o que os autores da teoria da correspondência propõem como reflexão, como podemos ver no artigo base de Mont’Alvão:

“Para os autores da teoria da correspondência (Bowles e Gintis, 1976), a escola deve ser entendida como uma instituição que, ao facilitar a integração de jovens ao mercado de trabalho, serve como mecanismo de perpetuação das relações sociais da vida econômica. O processo de escolarização funciona, assim, como mecanismo de internalização de valores, normas e comportamentos ditados pela classe dominante. ” (MONT’ALVÃO, A., p. 394).

                Uma reflexão que cabe nesse momento é: Como o artigo pode falar que as políticas ineficientes aumentam as desigualdades, citar um estudioso da teoria reprodutivista e logo em seguida afirmar que “talento e esforço” explicam o desempenho escolar melhor que a situação socioeconômica?
            Mais para o final do artigo discutido é mencionada a ideia que a escola deve estimular o esforço dos alunos. Com certeza ela deve, mas não pode esquecer-se das diferenças e desigualdades entre cada estudante e trabalhar essa desigualdade não de forma igualitária, mas dando atenção necessária àqueles que necessitam da mesma. Também fala que é necessário pensar em uma maneira mais inteligente de se investir os recursos, repensando a escola e sua qualidade no processo, o que também se faz importante realizar.

            Como pensamento final, a pressuposição de que a meritocracia no sistema educacional pode acabar produzindo desigualdades se mostra real, pois parte do pressuposto que todos têm a mesma capacidade e condições de adquirir com uma mesma facilidade um dado conhecimento, regra ou modo de agir. Fica bem claro que isso é inverídico, uma vez que existem desigualdades dadas, por exemplo, pelo grau de capital cultural que um aluno possa ter ou não. Quanto mais capital cultural, mais facilidade esse aluno terá ao longo de sua jornada educacional. Se um aluno não tiver o mesmo nível de capital cultural, ele pode sofrer com a cobrança demandada pelo sistema, que emprega os mesmos meios de averiguação de conhecimento para os dois tipos de aluno citados, ou seja, não depende apenas do “talento e esforço”. A meritocracia em si não é ruim, mas depende do senso de justiça que se tem para determinar se essas desigualdades estão sendo ampliadas pela mesma.